quarta-feira, 22 de abril de 2020

Precisamos falar sobre a Morte

#dia35
Nessa semana que passou morreu a mãe de uma amiga, depois o pai de outra amiga, depois a vizinha e depois o pai de uma amiga-Sense. Pasmem: nenhuma morte por Corona. Mas as restrições são as mesmas. Ou seja, sem velório. Sem cerimônia. Sem ver @ falecid@. Caixão fechado. Apenas um mini-velório. Dependendo do local são permitidos até 5-7 pessoas por pouco tempo. Mantendo o distanciamento, é claro. E isso não é uma crítica às autoridades que assim definiram. Estamos em guerra. Temos que agir assim. Tá tudo certo. 

Mas dói igual. A dor  das pessoas sem direito a se despedir dos entes queridos talvez seja a que mais me doa. Como são importantes esses Ritos. 
Processos tem início, meio e fim. E todas as etapas são importantes. Não poder se despedir adequadamente dói. Dói muuuuuito. 
Os esforços que mais uma vez o pessoal da área da saúde tem feito para levar/trazer vídeos de despedida dos pacientes de Covid-19 para os que estão morrendo. 
As mensagens: por olhares, por vídeos, por áudios. Quantos pacientes ficam incomunicáveis por dias, semanas... Desde que entram para UTI.
Uma separação de corpos não é uma coisa que estejamos acostumados.
Novamente me vêm as lembranças da minha mãe que morreu no ano passado.
Passamos 23 dias grudadas no hospital.
Lembro, sinto e vivo com muito amor todas as noites e dias que passamos juntas.
As refeições dadas na boca. Os banhos... Ai, os banhos... Quanto amor envolvido...
Lembro de quando ela morreu. Lembro da seleção da roupa para ser enterrada.
O batom, a sobrancelha, o cafuné no cabeça. 
O tempão que passei e que muitos passaram de mãos dadas com ela, já morta, no caixão. 
Aberto. Liiiiinda. Cheia de flores.
Que Ritos importantes. Que despedida em bocados.
Bocados de afeto, de ternura, de saudades, de alegria, de tristeza, de vida, de morte.
Cada pessoa que chegou e me/nos abraçou. 
Cada lágrima derramada conjuntamente.
Mesma coisa para despedida do meu irmão. Que esteve mais tempo doente, mas em casa. As refeições que fiz para ele. As refeições conjuntas com toda família. A Páscoa, meu aniversário do ano passado. As séries no Netflix que vimos juntos... A atualização dos contatos dele no iphone. Levou dias. Sobre cada um tínhamos uma história para compartilhar. Os brindes com cidra de maçã (sem álcool). Ele amava! Ficava feliz como criancinha... Quanto amor, quantas mini-despedidas. Algumas pessoas acham que a morte-súbita é mais fácil. Mas não sinto assim. Sinto que o luto "aos pouquinhos" é mais "tranquilo". Sei que a palavra "tranquilo" pode soar estranha, mas se despedir aos pouquinhos é mais... "suportável". Conseguimos elaborar e incorporar aquela partida aos pouquinhos.
Nessa guerra não estamos conseguindo nos despedir adequadamente dos nossos mortos. 
Nem apoiar noss@s amig@s adequadamente.
E isso dói muuuuuito!!! 
Toda minha empatia, solidariedade àqueles que não estão conseguindo se despedir!

Ando sugerindo ZoomVelório, ZoomEnterro, ZoomTrago...
Ah... Como lembro do trago que tomei com minha família e amigos-Senses no dia que a mãe foi enterrada.
Bebemos, comemos, cantamos, choramos, nos abraçamos, ... extravasamos...
Luto vivenciado em grupo é mais fácil sim...
Ritos de Passagem.

#dia36 Feriado Tiradentes
A conversa do dia foi sobre a validade (ou não) de ser um feriado...
ZoomYoga relaxante. Lasanha de Abobrinha maravilhosa. Livro Fogo Interior do Castaneda. 
Filme Contágio com as gurias. De 2011. Morcegos.
Live do Nando Reis absolutamente sensível, doce, puro afeto. Era como se ele estivesse comigo, quase senti um cafuné físico... Ai como amo cafuné!
Vou morrer de saudades dessas Lives quando tudo isso acabar.
Ah, caso alguém ainda não tenha o site que mostra as Lives do dia, segue: https://lives.mus.br

#dia37
Recebi por WhatsApp no grupo das Doulas da Morte as 5 fases do luto de Elisabeth Kubler-Ross aplicadas aos vírus (desses sem identificação do autor):
1) Negação: o vírus não existe! é invenção da midia. é só uma gripezinha..
2) Raiva: que m... de virus! malditos chineses! Culpa do PT! Culpa do Bolsonaro!
3) Depressāo: crise economica sem precedentes, milhares de pessoas morrendo todos os dias; o mundo entrará em colapso. O que será de nós??
4) Barganha: quem sabe se eu sair de máscara e tomar todos cuidados eu consiga sobreviver?
5) Aceitação: a epidemia existe e é real. Tem tomado proporções assustadoras em algumas regiões do mundo (NY, algumas regiões da Italia e Espanha..) enquanto outros locais foram e serāo muito pouco afetados. Precisamos tomar todos cuidados possíveis e seguir a vida, com a esperança que em breve algum tratamento eficaz ou prevenção estejam amplamente disponíveis.

E a foto do enterro-conjunto em Manaus começou a circular... e logo em seguida vários WhatsApp-negações da foto, que seria montagem... (será que ainda tem gente na fase 1?)

Plano do governador apresentado nas mídias para uma liberação gradual de alguns serviços...
Fotos de gaúchos amontoados na beira do Guaíba compartilhando chimarrão e sem respeitar a distância recomendada...
É na adversidade que o Guerreiro mostra sua impecabilidade.
#forçanaperuca #ficaemcasa

E para quem quer começar a ouvir e refletir sobre a morte, recomendo dois eventos: 

Live da AmortSer sexta as 18h (todas as sextas com convidado diferente):    https://www.instagram.com/amortser_contato/?r=nametag

Death café Porto Alegre online sábado das 15h-16h: Link: https://hangouts.google.com/call/O-mo7hGK7uvZ_-7I-EWmAEEE
(maiores detalhes na pagina do face: Death Café Porto Alegre)

#precisamosfalarsobreamorte



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